Numa sexta-feira à tarde, no mês de abril, eu estava no escritório preparando o programa para um Curso de Relações Trabalhistas para Estrangeiros, quando o telefone tocou. Como já era fim de tarde, a secretária já havia saído para o merecido descanso do fim de semana.
Atendi o telefone e, do outro lado da linha, um jornalista perguntou-me, após rápida apresentação: quais as características atuais que devem ter os Supervisores? Parei por uns instantes e disse-lhe: “Com o fenômeno da globalização, da fusão e incorporação de empresas, do desemprego e da automação, os Supervisores precisam, mais do que nunca, saber liderar pessoas, conhecer o comportamento humano, entender de informática, de comunicação, ter boa escolaridade e ser eclético. Pensar que não existe mais o emprego permanente”.
Desliguei o telefone e fiquei pensando mais um pouco sobre a pergunta e minha resposta. Seria isto mesmo?
Hoje, com a transformação ainda em pleno desenvolvimento é possível que muito poucas pessoas tenham tido oportunidade de acumular experiência para, com segurança repassá-la no ambiente de trabalho ou mesmo nas salas de aula.
A proposta que se tinha de carreira perene onde o indivíduo que permanecesse por toda sua vida profissional em uma única empresa, praticamente não existe mais.
O ambiente empresarial atualmente é de extrema desconfiança. O empregado sabe que ajuda hoje a empresa a enxugar os seus quadros e amanhã poderá estar na lista de demissões.
A tecnologia rearruma a oficina e escritório, a operação e a produção. O que fazer para preparar o Supervisor para que ele possa, em um ambiente conturbado, ser um bom chefe?
Estava refletindo sobre as dificuldades por que possam as empresas que têm de sobreviver e em um ambiente de alta competitividade e sobre as ansiedades em que vivem os empregados que não sabem por quanto tempo permanecerão em seus postos de trabalho, quando relembrei de um artigo que havia lido no Jornal Correio Braziliense, em junho de 1992, de autoria de Assis de Chateaubriand. Tal artigo fora escrito em dezembro de 1959 e estava sendo reproduzido em comemoração ao centenário de nascimento do “Velho Capitão”. O artigo era intitulado “Formação de Chefes”.
Do referido artigo, resolvi sacar alguns trechos que me parecem muito atuais. Senão vejamos o que dizia Chateaubriand já em 1959.
“É indispensável a formação de uma elite responsável no Brasil. É mais indispensável ainda que esta elite seja trabalhista do que saída de outra qualquer classe.
Estamos, no Brasil, no último furo do loro, e poucos, bem poucos, são aqueles que conseguiram enxergá-lo”.
Como se vê, desde 1959 – portanto há mais de 40 anos – que a classe política brasileira foi alertada para a necessidade de se pensar na formação de chefes.
Chateaubriand começa o referido artigo dizendo: “Quem estuda o Brasil dos nossos dias, uma da coisas mais sérias que encontra em sua estrutura social e econômica é a da ausência de chefes. Sim, não temos chefes. Sofre-se aí de uma falta atroz de condutores.
Em todas as seções de comando de nossa terra escasseiam os guias, as índoles de direção”.
Onde Assis Chateaubriand começou seu artigo em 1959 eu termino a minha reflexão no ano 2000, concordando em gênero, número e grau com tudo que ele disse. É preciso formar chefes!