As Centrais Sindicais Brasileiras fizeram vários movimentos contrários ao projeto de Lei de iniciativa do Deputado Sandro Mabel que pretende dar um norte para a Terceirização no Brasil. Em todos esses movimentos a palavra chave era a precarização das condições de trabalho. Alegavam os sindicalistas que alguns direitos dos trabalhadores lhes seriam negados, se transformado o referido projeto em lei.
Embora pensando diferente, porque a legislação trabalhista brasileira é aplicável às condições de trabalho em que as empresas que são contratadas trabalham, sempre entendi a posição política das centrais sindicais ao adotarem tais posicionamentos.
Porém, deparei-me com uma situação inusitada e nunca imaginada por mim, ocorrida durante a greve do bancários.
Tenho conta em dois bancos. Uma no Banco do Brasil, em Salvador, e outra no Banco Santander, em Lauro de Freitas.
Na ultima terça-feira, dia 24 de setembro de 2013, dirigi-me à Agencia do Banco Santander para conversar com o Gerente sobre um operação bancaria que deveria ser realizada durante minha ausência por motivo de viagem. Não me preocupei com a greve porque minha conversa seria com o Gerente e a operação propriamente dita não seria realizada agora.
Qual não foi minha surpresa ao ser abordado por duas simpáticas grevistas que me disseram que eu não poderia entrar na agencia bancária.
Por que não posso? Perguntei.
– Porque os empregados estão em greve, respondeu sorridente minha interlocutora. Achei interessante a educada abordagem e resolvi conversar com as grevistas. Perguntei para a que estava mais próxima de mim em que banco ela trabalhava.
– Não trabalho em banco nenhum, respondeu a moça.
Você trabalha aonde? Insisti.
– Trabalhamos para o sindicato dos bancários, interferiu a outra.
E vocês trabalham no Sindicato dos Bancários desde quando? Insisti mais uma vez.
– Não somos empregadas do Sindicato. Fomos contratadas para fazer o piquete da greve.
Achei estranho, mas continuei perguntando. E vocês têm carteira assinada, com os recolhimentos previdenciários, Fundo de Garantia e tudo mais que a legislação trabalhista exige?
– Não temos nada disso. Recebemos R$ 50,00 por dia, mais um auxilio no valor de R$ 15,00 para alimentação.
Encerrei a conversa e fui tentar falar com o Gerente da outra agencia onde mantenho conta, no Banco do Brasil, em Salvador, distante mais ou menos uns trinta quilômetros de onde eu estava.
Lá encontrei quatro piqueteiros. Um rapaz e três moças. Repeti a mesma conversa, a de que precisava falar com o Gerente da agencia. Também de forma educada a líder deles me disse que ali só entrava quem tivesse o nome na lista que estava em poder dela. Só os Gerentes podem entrar, e nenhum cliente ou empregado podem passar da sala onde ficam os caixas eletrônicos, completou a moça.
Fiz uma pergunta provocativa, mais ou menos assim: e se eu não atender ao pedido de vocês e entrar, vocês vão me impedir na força?
– Vamos, falou com firmeza a líder.
Podem ficar tranqüilas que não vou dificultar o trabalho de vocês. A propósito, vocês são empregadas do Banco do Brasil? Perguntei.
– Não, respondeu a líder. Somos todos desempregados e fomos contratados para fazer este piquete.
A conversa foi a mesma, sendo que desta vez fiquei sabendo das experiências de cada um, conferi o valor da diária, da alimentação e do não recolhimento dos encargos sociais e trabalhistas. Tudo igual.
Não consegui falar com os Gerentes dos Bancos durante a greve dos bancários, mas aprendi algumas coisas importantes. A primeira é que o movimento sindical é contra a terceirização, mas a pratica. E a pratica da pior maneira possível e este deve ser o modelo que inspira os sindicatos para combaterem o projeto de lei do Deputado Sandro Mabel. A segunda é que as Centrais Sindicais são contrárias à precarização do trabalho, mas os Sindicatos a praticam. A terceira é que o Ministério do Trabalho considera que todos são iguais perante a lei, mas “uns são mais iguais do que os outros”.
Foi muito bom ter vivido esta experiência, a qual me fez lembrar com saudades de minha avó que em situações parecidas no direcionamento de nossa educação, dizia
“faça o que eu digo, mas não o que eu faço“.
Salvador, 27 de setembro de 2013.
(*) – Carlos Pessoa é Consultor na área de Relações do Trabalho