Para refletir:
Em qualquer negociação é preciso saber
discernir entre a divisão simples, a divisão
certa e a divisão perfeita. É preciso saber
também a oportunidade e a conveniência
de aplicar uma delas.
A divisão simples é aquela que parece óbvia, sem levar em consideração as circunstâncias, as pessoas e a contribuição de cada parte para a obtenção do todo. Não leva em conta as oportunidades futuras que uma negociação pode ensejar;
A divisão certa é aquela matematicamente correta onde os detalhes ou a proporção torna-se o fator proponderante para definir a parte de cada um dos envolvidos;
A divisão perfeita leva em consideração outros fatores além daqueles que se referem a contribuição de cada parte para a obtenção do todo. Leva em consideração oportunidades futuras de novos negócios e, geralmente, é magnânima, ou seja, demonstra gesto de grandeza de quem toma a iniciativa de praticá-la.
Malba Tahan, no livro “O Homem que Calculava”, conta uma história muito interessante e que pode ilustrar os três tipo de divisão. A história é mais ou menos assim:
Um cheique muito rico foi assaltado e os bandidos tomaram tudo que ele levava consigo, deixando-o apenas com a roupa do corpo e em estado bastante roto.
O cheique ficou na estrada sem dinheiro e sem ter o que comer. Quando estava prestes a morrer de fome, notou a aproximação de Beremis, o homem que calculava, e de seu amigo. O cheique contou-lhes o ocorrido e em seguida perguntou-lhes:
– “Por acaso vocês têm alguma coisa que se possa comer”?
O amigo de Beremis respondeu:
– “Tenho três pães”.
Beremis disse:
– “Tenho cinco pães”.
Então o cheique sugeriu:
– “Vamos juntar todos os pães em uma cesta, fazendo uma sociedade única. Durante o trajeto vamos nos alimentar todos iguais. Quando chegarmos a Bagdá prometo pagar-lhes com moeda de ouro todos os pães que forem consumidos”.
Os amigos aceitaram a proposta e se puseram em marcha com destino a Bagdá.
Durante a viagem todos os pães foram consumidos e, ao chegar em casa, o cheique tratou de pagar a promessa. Apanhou sua bolsa e dela apanhou oito moedas de ouro, dando cinco para Beremis e três para o amigo de Beremis.
Ao receber as moedas, o “Homem que calculava” não concordou com a divisão e objetou respeitosamente, dizendo:
– A divisão, feita desse modo, pode ser muito simples, mais não é matematicamente correta!
– Se eu dei cinco pães, devo receber sete moedas; o meu amigo que deu três pães deve receber uma moeda!
Ante o espanto do cheique pela forma proposta para dividir o pagamento de oito pães com oito moedas, o “Homem que calculava” justificou assim:
– Durante a viagem, quando tínhamos fome, eu tirava um pão da cesta em que estavam todos e o repartia em três pedaços iguais, dando um pedaço para cada um de nós. Se eu dei cinco pães, claro está que contribuí com quinze pedaços. Se meu amigo deu três pães ele contribuiu com nove pedaços. Assim, consumimos ao todo, vinte e quatro pedaços, sendo oito para cada um de nós. Dos quinze pedaços que eu dei, comi oito, na realidade só dei sete.
– O meu amigo deu, como disse, deu nove pedaços, mas também comeu oito. Logo, ele só deu mesmo um pedaço.
– O cheique comeu , como todos nós, oito pedaços, e não deu nenhum. Dos oito que comeu, eu dei sete e meu amigo deu apenas um.
– Assim sendo, é justo que eu receba sete moedas, que correspondem aos meus sete pedaços e ele receba apenas uma moeda que corresponde à sua contribuição.
O cheique ficou admirado com a demonstração matemática que acabava de ouvir e, convencido pela demonstração dos cálculos, deu sete moedas para o calculista e uma para seu amigo.
Ao receber o pagamento, Beremis, o “Homem que Calculava”, disse:
– “Esta divisão é matematicamente correta, mas não é perfeita aos olhos de Deus”.
E tomando as moedas as dividiu em partes iguais, ficando com quatro e dando quatro moedas para seu amigo.
O cheique novamente se espantou e disse:
– “Esse jovem além de parecer-me um sábio e habilíssimo nos cálculos e na aritmética, é bom para o amigo e generoso. Tomo-o, hoje mesmo, para meu secretário”.