Neste momento de crise econômica por que passa o país, a criatividade de alguns empresários e até mesmo parte de alguns gerentes de Recursos Humanos, trabalham em uma só direção – a demissão de empregados para reduzir os custos fixos e adequá-los às atuais necessidades das empresas.
Grande parte daqueles que não apontaram de imediato para esta solução colocam como ponto inicial a redução da jornada com a correspondente redução dos salários.
Poucas são as empresas que estão buscando outras alternativas ou mesmo levando em consideração que a retomada do desenvolvimento do país pode estar distante, mas a retomada da produção da empresa deve estar próxima.
Durante muitos anos ouvimos as empresas afirmarem que seus empregados são os seus principais recursos – “eles são os nossos melhores ativos”.
Por mais que se esforçassem para demonstrar que isto não era apenas uma frase de efeito, as empresas nem sempre conseguiram convencer seus empregados de que esta afirmativa não tinha apenas o objetivo de obter deles um maior desempenho e produtividade.
É agora durante a crise, que os empregados vão avaliar e perceber o que realmente é mais importante para as Organizações.
Vão refletir sobre as afirmativas das empresas de que eles são os seus ativos mais importantes… Para algumas empresas isto ficará confirmado, sem dúvida. Para outras, também ficará confirmado aquilo que somente os dirigentes não sabiam, ou não admitiam publicamente, porque os empregados não acreditam em discursos ou frases de efeito. O que convence são demonstrações de reconhecimento no dia-dia.
Neste conturbado cenário, como fica a situação do Gerente de Recursos Humanos?
Aqueles que falam somente o que o corpo dirigente quer ouvir, por certo, não terão dificuldades agora. Entretanto, aqueles que ponderam com a direção que é preciso manter a credibilidade e o moral elevado dos empregados mesmo em momentos de crise, por certo serão substituídos.
Quando o país retornar ao seu ritmo de desenvolvimento a situação deverá se inverter, e então os gerentes de Recursos Humanos que estarão em disponibilidade hoje, serão procurados novamente pelas mesmas organizações que as julgaram dispensáveis.
Assim tem sido ao longo do tempo…
Às vezes a filosofia do pará-choque de caminhão se aplica às relações trabalhistas e, particularmente, uma frase escrita em um pará-choque me chamou a atenção. Nela estava escrito: “Na subida você me aperta, na decida agente acerta”.
É necessário que se cuide adequadamente das Relações Trabalhistas mesmo quando os sindicatos e os trabalhadores não estão com ânimos para mobilizações.
Quando o país está em desaceleração econômica a classe trabalhadora se sente como um caminhão pesado, subindo vagarosamente o morro.
Quando há um razoável crescimento econômico, este caminhão pode ser mais acelerado, andar com mais velocidade.
É prudente pensar sempre nas duas hipóteses. Em princípio, nenhuma situação é definida para sempre e tanto os trabalhadores quanto os empresários devem se colocar, hipoteticamente, uns nos lugares dos outros.
O caminhão daquela frase terá que dar muitas viagens, a não ser que a carga a ser transportada se acabe…
No final da crise talvez fique na memória do trabalhador brasileiro, a certeza de que não vale a pena “vestir a camisa” da Empresa… Por mais positiva que seja a sua política de Recursos Humanos, ficará a dúvida originada da Política Governamental voltada para os descamisados.
Será que continuará valendo a pena vestir a camisa da Empresa?
As atitudes das empresas estarão respondendo antecipadamente a esta pergunta. Não se pode desconhecer ou deixar de levar em consideração que em uma crise tão profunda haverá necessidades de ajuste no quadro de empregados. O que se questiona é a forma com que isto tem sido feito. E necessário preocupar-se também com a manutenção da dignidade do ser humano – mesmo na hora da demissão.