Por ocasião do encerramento dos cursos de negociação que tenho ministrado em várias entidades costumo contar a seguinte história de um negociador que militava na área de Relações Trabalhistas e que tinha como objetivo pessoal harmonizar os interesses entre o capital e o trabalho:
Sempre que era chamado para negociar os conflitos trabalhistas ele tentava negociar primeiro os limites que lhe seriam dados, pois sabia que, sem moeda de troca, não poderia chegar a bom termo na negociação. Quase que invariavelmente ouvia dos empresários a seguinte frase: “Primeiro é preciso esperar crescer o bolo para depois dividi-lo”.
Acontece que este Negociador tinha dois filhos adolescentes que viviam às turras, brigavam por qualquer motivo. Um dia, atendendo sugestão de sua mulher, o profissional de negociação resolveu tomar o café da manhã com a esposa e filhos, coisa que não fazia há muito tempo, impedido pelos horários incertos de seu trabalho.
No dia combinado, sua mulher foi à padaria (como sempre), comprou o leite, o pão e, por falta de moeda no caixa, recebeu, como troco, um bolinho moreno, açucarado, denominado sonho.
Ao chegar em casa, ela serviu a mesa, colocando o leite e o pão em quantidades suficiente para todos. Porém, o bolinho era um só e era dele que as crianças mais gostavam.
O garoto rapidamente se apoderou da faca para cortar o bolinho e, naturalmente, servir-se da parte maior.
A garota reagiu e naquele momento iniciou-se uma acalorada discussão para ver quem cortaria o bolo.
O pai que a tudo observava, lembrou-se de uma história atribuída ao Rei Salomão e disse:
– Meu filho, você vai cortar o bolo. Porém, sua irmã vai servir-se primeiro.
O garoto mirou, mediu, conferiu e cortou o bolinho no meio, dividindo-o em dois pedaços exatamente iguais.
A família tomou o café, sem outras alterações e o pai se despediu beijando os filhos e a esposa, dirigindo-se à porta para cumprir os compromissos do dia.
Sua mulher o acompanhou até a porta e indagou: como você pensou nesta solução? ao que o marido respondeu: como você sabe sou um negociador que procura diariamente conciliar os interesses entre o capital e o trabalho. Mas confesso que nunca consegui fazê-lo da forma que acho justa. Todas as vezes que vou aos empresários pedir moeda de troca para negociar, eles me dizem que, primeiro é preciso esperar o bolo crescer, para depois dividi-lo. E o bolo nunca cresce e eu não posso dividi-lo da forma que acho justa.
Agora, aqui em nossa casa, deparei-me com este conflito e pensei o seguinte: “já que não consigo realizar o sonho de dividir igualmente o bolo, acho que é hora de dividir igualmente o sonho”.